sábado, 17 de janeiro de 2015

Somos todos Camila

Para ler ouvindo Chico Buarque

Hj encontrei com um amigo: o Marcos. Ele estava todo empolgadinho com uma namoradinha nova e postando fotinhas no facebook. Tudo assim, muito fofinho virtualmente falando. Perguntei da moça e ele me contou q tinha acabado. Como assim, Bial?

- Ah, Nandra... e ela está mal. Eu não esperava a reação dela.
- Mas qual foi a reação da moça, cara-pálida? Te xingou? Quebrou tudo?
- Não... pelo contrário. Ela simplesmente aceitou. Não fez escândalo. Nada.

Pensei comigo: Uma lady essa menina. Acaba de ganhar dez pontos na cartela. Ainda brinquei com ele... não se engane... às vezes está quieta, mas pôs seu nome na boca do sapo. Concordo que é coisa rara. Mulher é passional. Mulher quebra tudo, bota veneno na comida do cara, mete chifre com o melhor amigo, mas uma coisa confesso... não há nada mais perigoso do que uma mulher calada.

Piadas a parte, falei pra ele q isso não me choca. De verdade. Não vou mentir que dá vontade de pixar o muro da casa do cara, de vazar os pneus, de jogar indiretas no facebook, mas depois que passa esse primeiro estágio de ira, a verdade é que a gente quer é um colo de amigo ou nossa casa e chorar chorar chorar até secar tudo.

Eu compreendo essa moça porque vamos combinar: na era digital ninguém morre de amor. O máximo que fazemos é deletar ou bloquear o ser humano que quebrou nosso coração ou “quem destruiu a nossa vida”, como diz o pensador Pablo do Arrocha. Quem extrapola vira notícia de Cidade Alerta ou farofa Yoki. Veja bem, meu bem, nem todo mundo vale tudo isso.

Por favor, não confunda tudo isso com a anuência dessa moça. Tenho certeza que por ela, nessa noite de chuva, ela amaria estar dormindo de conchinha com meu amigo, fazendo planos, tomando um vinho e zapeando a TV a cabo. Mas não, ela concordou com sua ausência requerida. E o mais importante: ela respeitou a decisão dele. É a vida que segue. Vamos mancando, chorando, sangrando, mas seguindo. Isso sim é a Mulher Maravilha.

Compartilho sua dor. A minha última, poucos sabem. Quantas vezes fui trabalhar com o coração ardendo de tanto que foi esfolado no asfalto e meu chefe nunca soube. Minha mãe nem sonha, quiçá, imagina, que engoli muitas vezes meu choro, me fazendo de forte. Quando tudo q eu queria era pegar o primeiro vôo, trem, ônibus, carona pra qualquer lugar que me fizesse esquecer tanto desgosto. Quantas vezes fui chorar no banheiro, entre um intervalo e outro, porque era uma saudade tão doída, que eu não sabia explicar. E até hoje não sei.

Não tenho sentimento de pena e nem compaixão. Tenho solidariedade. É minha amiga, dói, mas passa. Dói, mas a gente vai trabalhar. Dói, mas os amigos ligam e te chamam pra tomar uma. Dói, e a gasolina sobe. Dói, e precisamos pegar um pão no mercado porque não tem nada em casa pra comer.

Em um mundo de pés na bunda e namoros que não engatam somos todos Camila. 

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