Para ler ouvindo Chico Buarque
Hj encontrei com um amigo: o
Marcos. Ele estava todo empolgadinho com uma namoradinha nova e postando
fotinhas no facebook. Tudo assim, muito fofinho virtualmente falando. Perguntei
da moça e ele me contou q tinha acabado. Como assim, Bial?
- Ah, Nandra... e ela está mal.
Eu não esperava a reação dela.
- Mas qual foi a reação da moça,
cara-pálida? Te xingou? Quebrou tudo?
- Não... pelo contrário. Ela
simplesmente aceitou. Não fez escândalo. Nada.
Pensei comigo: Uma lady essa
menina. Acaba de ganhar dez pontos na cartela. Ainda brinquei com ele... não se
engane... às vezes está quieta, mas pôs seu nome na boca do sapo. Concordo que
é coisa rara. Mulher é passional. Mulher quebra tudo, bota veneno na comida do
cara, mete chifre com o melhor amigo, mas uma coisa confesso... não há nada
mais perigoso do que uma mulher calada.
Piadas a parte, falei pra ele q
isso não me choca. De verdade. Não vou mentir que dá vontade de pixar o muro da
casa do cara, de vazar os pneus, de jogar indiretas no facebook, mas depois que
passa esse primeiro estágio de ira, a verdade é que a gente quer é um colo de
amigo ou nossa casa e chorar chorar chorar até secar tudo.
Eu compreendo essa moça porque
vamos combinar: na era digital ninguém morre de amor. O máximo que fazemos é
deletar ou bloquear o ser humano que quebrou nosso coração ou “quem destruiu a
nossa vida”, como diz o pensador Pablo do Arrocha. Quem extrapola vira notícia
de Cidade Alerta ou farofa Yoki. Veja bem, meu bem, nem todo mundo vale tudo
isso.
Por favor, não confunda tudo isso
com a anuência dessa moça. Tenho certeza que por ela, nessa noite de chuva, ela
amaria estar dormindo de conchinha com meu amigo, fazendo planos, tomando um
vinho e zapeando a TV a cabo. Mas não, ela concordou com sua ausência
requerida. E o mais importante: ela respeitou a decisão dele. É a vida que
segue. Vamos mancando, chorando, sangrando, mas seguindo. Isso sim é a Mulher
Maravilha.
Compartilho sua dor. A minha
última, poucos sabem. Quantas vezes fui trabalhar com o coração ardendo de
tanto que foi esfolado no asfalto e meu chefe nunca soube. Minha mãe nem sonha,
quiçá, imagina, que engoli muitas vezes meu choro, me fazendo de forte. Quando
tudo q eu queria era pegar o primeiro vôo, trem, ônibus, carona pra qualquer
lugar que me fizesse esquecer tanto desgosto. Quantas vezes fui chorar no
banheiro, entre um intervalo e outro, porque era uma saudade tão doída, que eu
não sabia explicar. E até hoje não sei.
Não tenho sentimento de pena e
nem compaixão. Tenho solidariedade. É minha amiga, dói, mas passa. Dói, mas a
gente vai trabalhar. Dói, mas os amigos ligam e te chamam pra tomar uma. Dói, e
a gasolina sobe. Dói, e precisamos pegar um pão no mercado porque não tem nada
em casa pra comer.
Em um mundo de pés na bunda e
namoros que não engatam somos todos Camila.
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