domingo, 19 de agosto de 2007


Acordou tarde em um domingo como todo domingo tende a ser tarde demais. E pôs no ouvido Joy Division porque queria ouvir a voz grave do Ian Curtis e ficou pensando como alguém pode se matar enforcado e não lhe tirou razão nenhuma. Pôs-se a dançar como ele para ver se conseguia expulsar o que lhe atormentava, foi uma luta em vão.
Por mais que eu queria ser salva, nunca estendia sua mão para aceitar ajuda. Quanto mais desejava ir embora, mas apertava as correntes dos seus pés. Oh, yeah, She’s lost control... Reflitiu se solidão mata, se pensamentos demais mata, se ácaros matam, se apatia mata, se uma bomba nuclear vai cair aqui, se ela se for se vão sentir sua falta, se está velha demais pra tudo isso, se é jovem demais para estar reclamando de tudo. E apertou seu cinto, pois a grana tah curta e sua calça está caindo. Sua franja está enorme e não vai cortar seu cabelo, ainda que a capa da revista mostre qual é o corte do momento. Olhou para o teto e pensou q hoje é um belo dia para cortar os pulsos, mas se lembrou q ele vai fazer 22 anos e não pode morrer antes de lhe desejar Felicidades nesse mundo de merda e nesse país miserável.

sábado, 11 de agosto de 2007

Manifesto Feminista


Hoje acordei com vontade de arrancar meus olhos. Comecei a analisar todos esses homens em seus ternos, onde enforcam seus medos nessas gravatas listradas. Homens de terno, porém, não ternos. Ainda quero arrancar os meus olhos. Talvez na realidade eu queira é arrancar meu terceiro olho. Já não bastasse ter nascido mulher. Sexto sentido, terceiro olho, intuição e cólica menstrual. Degradada filha de Eva. Castigada. Por causa da porcaria da maçã. Não a fruta propriamente dita. É a metáfora. Parece que não podemos experimentar nada. Por isso os codinomes galinha, sapatão, gorda, metida e frígida. A mulher não se pode dar ao luxo de dizer Não. Tem que ser e estar perfeita. Uma Vênus. Mas, no século XXI, uma Vênus de carteira assinada, corpo sarado, casa limpa, cabelo escovado, unhas feitas, não ter TPM, um belo marido, filhos educados e o tempo administrado.


Agora sinta a realidade: Você não entra na tua calça jeans predileta. Morre de vontade de comer toda a praça de alimentação do shopping. Contrai um monte de contas. Quando tem um namorado, não entende como ele pode gostar de você. Quanto não tem um namorado, se tortura porque nenhum homem te querer. Os hormônios são os seus grandes inimigos, quer dizer, depois das ex-namoradas e barangas que dão em cima do seu namorado. Sua mãe não te suporta mais em casa porque você já passou dos vinte anos, terminou a faculdade e rala feito doida no emprego que você está. Ah! Esqueci-me, falta crédito no teu celular, a bateria está acabando e o carro está com a gasolina na reserva.


E os homens não nos querem neuróticas, depressivas ou ansiosas. IM-POS-SÍ-VEL. Temos complexo de Atlas, carregamos o mundo nas costas. Até problema de amiga tentamos resolver. Por enquanto não sei o que é pior: ser mulher na Grécia Antiga ou ser mulher no século XXI. Alguém pode me explicar? Além de tudo isso, temos que ser finas. Polidas. Mascaramos nossas dores com lápis preto no olho e rímel à prova de água. Engolimos sapos, elefantes, jamantas. Porém, o chefe, família, namorado e estranhos podem soltar farpas e vir com sete pedras nas mãos. E nós? Se gritamos, somos taxadas de histéricas. Se batemos tão forte quanto um lutador de jiu-jitsu, somos mulher-macho. Acredito que a solução dos nossos problemas é andar com um spray de pimenta na bolsa. É mais elegante. Ou com uma lata de inseticida mesmo, acredito que o efeito seja melhor.


O pior de tudo é o tal do princípio da Igualdade. Tudo por causa daquela louca que queimou o sutiã em praça pública. Aposto que tinha levado um belo par de chifres do namorado e acordou menstruada, porque não é possível tanta loucura num dia só. O resto da mulherada deve ter achado o máximo. Vai ver que o sutiã da guria tava apertado e pronto, quis se livrar. Porém, os homens compreenderam que se queremos os mesmos direitos, temos que levantar peso como eles, como se isso fosse o significado de Igualdade. O conteúdo do nosso pedido de habeas corpus reside na independência que almejávamos. Sabe o direito de ir e vir? Um happy hour com as amigas? A desobrigatoriedade de ficar linda vinte e quatro horas? Éramos isso que buscávamos. Especialmente mulheres que não se consideravam tão prendadas ou não apreciavam o tricô, crochê e fogão como nossas avós um dia fora mestras.


O que restou para os dias atuais? Índices. Mulheres sustentam o lar. Divórcios. Produção independente. Remédios para sair da fossa, pílulas para emagrecer e drogas para dormir. Queremos salvar o mundo, mas também queremos nossa casa no campo com filhos, amigos e discos... E nada mais.