sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Ano Novo - Crônica Nova




Tenho traumas de tempestade. Em 85 caiu um raio na minha casa. Dia do aniver do meu pai. 1º de Novembro. Lembro direitinho. Minha irmã, grávida, secando o cabelo no quarto da mãe e depois o estrondo. Correria. Meus pais tentando salvar o q restou do Santana e a Maria, q trabalhava na nossa casa, apressando-me para me levar para a casa da vizinha. Reuní os meus brinquedos favoritos e como se estivesse em um êxodo e assim me dirigi para a casa do Tiago.
Eu e Tiago nascemos vizinhos. Ele em Agosto de 81 e eu em Outubro . Qd ele era bebê chegou a amamentar em minha mãe. Tiago foi o meu primeiro "namorado". Aquela coisa besta q td mãe faz com duas crianças. Mandavam nós dóis darmos beijos e abraços. Sei lá, às penso q as mães fazem isso para educar seus filhos sexualmente. Puta medo da filha virar sapatão e o filho viado. E na minha família os maiores castigos são: ficar pra titia, virar viado/sapata ou ser drogado. O resto tá valendo.
Andávamos de bicicleta, brigávamos mto pq meninos e meninas qd crianças se odeiam e religiosamente iámos um no aniversário do outro. Sempre a mesma história: Chegávamos produzidos por "mamãe", com o presentinho nas mãos e tímidos. No final da festa estávamos suados e super amigos. Crescemos um pouco mais e eu era a única guria da rua. Tiago fez novos amigos e prevaleceu a máxima machista. Meninas dentro de casa e guris na rua. Nutri uma puta inveja dele. Tiago podia brincar na rua, andar de patins e skate e eu tb... só q dentro do castelo encantado. Minha única forma de vingança era não devolver a bola dele qdo caía no meu quintal ou dedá-lo para a mãe dele qdo o filha da mãe tocava a campainha e saía correndo.

Hj o Thiago tem três vezes o meu tamanho, não moramos mais na mesma rua e não nos falamos mais. É inevitável não lembrar dele td vez q eu ouço um trovão. Ainda mais em Janeiro, qdo chove tds os dias. Talvez, tempestades sejam um trauma bacana porque me levam pra melhor infância q uma guria pode ter.