Escrever é despir-me. Como as
artistas burlescas. Faço strip-tease da minha dor, das minhas intimidades. De
tudo que eu tenho gigante dentro de mim e quero que tome forma no mundo.
Escrever é urgência. É minha
necessidade. Falo, converso muito, mas nada supera o q escrevo. Ou no caso,
digito.
Quando o que tenho não sai do meu
íntimo, vai me corroendo e assim estou.
Minha vontade era de te escrever
uma carta, passar de madrugada na tua casa e deixar na tua caixa de correios.
Pensei nisso várias vezes, mas não é possível. É muito retro, muito démodé,
muito eu.
Ver minha letra, redonda e ao
mesmo tempo trêmula é como sentar na tua frente e olhar dentro dos teus olhos.
É eu estar aí, na tua casa, na tua frente, nua em um cômodo de luz acesa. Dá-me
pânico.
Escrever é me exorcizar.
Preciso, necessito arrancar a
dor, você, as lembranças, meus sonhos, as esperanças e tuas promessas. Vc não
imagina e talvez nem saberá que já chorei sentei na beira da cama com muitas
saudades de vc. Abracei a mim mesma como forma de desespero, na tentativa de
curar a dor.
Engoli regras, soluços, saudades
tudo junto misturado de uma vez só. Enquanto na realidade eu queria ser
passional, sair correndo ou gritar com vc no telefone e te dizer “Pelo Amor de
Deus não saía da minha Vida”, mas vc já havia saído e eu demorei demais pra
notar.
Chorei depois.
Choro agora.
Não sei se foi castigo, se foi
afobação se foi burrice minha. Mas eu acreditei. Achei q havia chegado a minha
hora. Tinha certeza que era agora e era você. Idiotice acreditar que eu estava
dominando o destino, o tempo, a história das nossas vidas.
Se antes eu havia tomado uma
voadora nas costas, agora eu tomei uma rasteira. Fiquei de canto, escanteio, no
cantinho da disciplina.
Lembra que uma vez eu disse que
se vc quisesse eu sumiria? Pra nunca mais? Eu sei fazer essa mágica. Faço
chorando, sangrando, contra a minha vontade. Mas faço porque não sei ficar
aonde não sou bem vinda. Sou corajosa até demais. Encaro tropa sem colete à
prova de balas, dou cobertura, recolho feridos. Só não sei lutar aonde minhas
balas não atingem.
Recolho-me. Sumo. Fico off line. Não te preocupes. Não pixarei
o muro da tua casa, não te ligarei. Mas sentirei. Sentirei arder tudo o q sinto
por ti, aqui. Sozinha. Calada. Sem
invadir tua rede social, farei à moda antiga. Ouvindo músicas, tomando porre e
chorando no colo dos amigos. Porque quer eu queira ou não, não existe
tecnologia que ainda nos cure da dor.