Sempre morei em
casa. No centro da cidade. Bem na selva de pedras. Carros,
buzinas e barulho. Só na infância tive amigos da rua, depois de um pouco mais
crescida não mais. Pra não dizer que eu não tinha amigos, restou o Rubens q
morava na rua do lado e o Daniel que morava no bairro próximo. Éramos os 3. Daí
a gente cresce, muda de escola e se distancia.
Pra piorar sou filha única por parte de pai e caçula por
parte de mãe. Então, pra brincar só com as primas e as amigas da escola. Quando
eu era criança eu tinha inveja de quem morava em bairro. Eu via as
primas brincando na rua e eu morava numa avenida hiper movimentada. Pedia para
os meus pais para eu mudar de casa, só para ter mais amigos. Meu sonho era ser
uma criança da rua e não “de rua”.
Agora eu consegui ter a minha casa. Digo, apartamento. E é
em um bairro. Qdo ficamos adultos acontece aquela coisa de vc se fechar. E tb
esquecer que vc era doida para ter mais amigos pertos, vizinhos. Precisou
acontecer uma tragédia pessoal para que eu ganhasse amigos.
Eu não sei o q seria de mim sem os meus vizinhos. Sem aquela
pessoa q bate na tua porta mesmo a casa uma zona e a pia transbordando de
louça. É tanta intimidade que não me sinto constrangida. Justo eu que não bato,
não ligo antes de visitar, eles me ensinaram que não pode ter frescuras com
eles. Sou eu na versão mais crua e bruta possível.
Assisto tv na casa deles. Tomamos tereré. Sentamos em frente
ao bloco pra tomar cerveja. Eles vem me ver. A vizinha de cima além de dividir
a internet bate na minha porta para q eu mate as baratas que venham aparecer. A
vizinha da frente me liga pedindo pra ajudar a abrir uma garrafa de vinho.
Tenho vizinhos que me dão remédio pra dor de cabeça quando estou de ressaca.
Por essas e outras eu descobri que eles são como anjos da guarda.
Em tempos de facebook, de gente que mais olha no celular do
que nos olhos, ter eles por perto é uma benção.