quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Don't dream it's over



Ninguém nos ensina a perder. No fundo ninguém está preparado para o não. Coisa louca achar que se pode ser forte 100% e 24h por dia. Sim, a vida bate e com muita força. A gente tenta enxergar o futuro, o saldo. Pensa que um dia vai rir disso tudo, mas esse dia demora pra chegar. Quando sua amiga perde, vc também tem prejuízo. Se ela sofre, vc chora junto porque não dá pra sorrir e nem ser feliz se a pessoa que acompanhou sua adolescência e sentou ao seu lado no colégio e na faculdade está arrasada.

Não dá pra ignorar nada disso. Vc a conhece. Vc sabe seus sonhos e planos. Vcs mataram aulas juntas, pegaram exame. Foram a tantas festas. Ela sabe de coisas que seus pais talvez nem sonham. Amiga é cúmplice. Não basta ser irmã, ela é testemunha. E vc sabe que quando ficarem velhinhas a memória de uma ajudará a outra. E seus filhos serão amigos e seus maridos também. E nada nesse mundo mudará isso.

Por hoje a minha amiga Marcela está em dor. Fisicamente eu não estou lá. Ela não ligou para me avisar. Entre nós não existem protocolos. Ela avisou apenas a Sônia e bastou para eu me despedaçasse. Chorei. Fiquei arrepiada. Perguntei para Deus porquê dela. Porquê com ela. Segunda vez. Segunda vez que perde um nenê. No comecinho da gestação. Um embrião de vida e de sonhos. Agora ou nunca. All in. Todas as fichas.

Eu só ouço: Ele sabe o que faz. Dizem que Deus é perfeito até na dor. Não envia nada que seja maior para carregarmos, mas às vezes eu penso que ele esquece que a nossa carroça está quebrada ou que não mandamos o nosso carro pra revisão. Dá aquele desespero no peito porque quando a gente sabe que é um projeto de vida, que não é brincadeira e nem aventura, por que permitir tanta dor? Por que dar e tirar?

Existe sabedoria nisso. Ele tem certeza que por mais dolorido que seja perder agora e por mais injusto possa parecer, certamente seria pior lá na frente. Com o quarto montado e com o nome escolhido. Seria muito mais dolorido passar os nove meses radiante para morrer por dentro por falta de força, falta de vida.

Eu acredito nas escolhas Dele. Como o pai que cuida de um filho. Toma sua mão para atravessar a rua porque sabe que a criança não aprendeu cuidar o semáforo, não olha para os dois lados, não pisa na faixa de pedestre. Pai que é pai segura a mão, leva consigo e ensina porque uma dia ele fará sozinho e se lembrará da lição ainda que fisicamente o pai não esteja ali.

O sonho ainda não acabou.
don't dream it's over

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