quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Raspas e Restos me interessam

                                                                                                                                       Para Renato
                                                                                                                   Para Ler ouvindo Cazuza.


Foi de um momento besta, cotidiano e rotina. Eu estava grelhando um frango e quando me dei conta eu estava raspando aquele restinho que fica. Notei que estava mais saboroso que a própria carne. Havia caldo, havia sabor. E me questionei o porquê do ser humano ser assim, tem o todo, mas quer o que fica. Não tem explicação.

Nesse mesmo período em que eu fiquei com essa crônica engasgada, vi um clipe da cantora pop Rihanna da música We found Love em que ela recita que ela gostaria que todas as coisas ruins de volta do relacionamento para poder ter as boas também. De fato, o ser humano é assim.

Tem gente que ressuscita namoro, corre para agenda do celular para ter de volta uma pessoa que não foi tão importante, mas foi uma opção. Juntam-se os cacos na vã tentativa de recriar o copo, um vaso, uma história. Cola, passa durex, fita crepe. Não adianta. Faltam pedaços, falta corpo, sempre vai haver vazios e lacunas.

Talvez, para sobreviver a esses vazios, optamos pelas raspas e restos. Sorvemos tudo a que temos direito. Ao amor, a paixão, a desilusão, a indiferença, a raiva. Agarramos a tudo para não deixar para o próximo. Fazemos nosso próprio inventário. Velamos nossos últimos namoros.

Não vou mentir que gosto de raspar o finalzinho da panela de arroz. Todas as vezes que fazemos isso é pelo motivo de o arroz estar gostoso, mas tão gostoso que é difícil de acreditar que acabou. Logo, a gente corre para a panela, pega a colher e raspa. Lambe os beiços e faz escondido, pra não dividir com ninguém.

Não somos diferentes nas nossas vidas. Quando gostamos somos egoístas da mesma maneira. Até quando perdemos agimos assim. Se não é possível ficar com o todo, que sejamos herdeiros das reminiscências... das migalhas. Porque o que fica é uma mistura de um pouco de nós com o do outro.

E eu quero a minha parte. Minha fatia, minha parcela, meu quinhão.

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